MAVET (MORTE NO JUDAÍSMO)
Muitos judeus usam, como última peça, o kittel que foi usado em vida, nos dias santos, como na Pessa'h (Páscoa) e no nissuin (casamento). O cinto desta túnica (o Kittel) é muitas vezes feito a partir do xaile que embrulhou o judeu no dia do seu nascimento.Para o judaísmo, a morte faz parte da vida. Faz parte da condição humana. Tudo deve ser feito para promover a saúde e salvaguardar a vida. Matar é um mal. Notificado da morte de alguém, o judeu responde, normalmente, "abençoado seja o justo juíz", afirmando, nesta expressão, a confiança na justiça de D'. Aquando do pressentimento da morte, quando tal é possível, o judeu recita, se for capaz, uma confissão, com a seguinte oração : "Eu reconheço perante Ti, Senhor meu D' e D' dos meus antepassados, que, quer a minha cura, quer a minha morte, estão nas tuas mãos. (...)".
O moribundo nunca deve ficar sozinho, sendo esta uma grande preocupação de todos os judeus:cuidar dos moribundos. A eutanásia é considerada como um assassínio, embora alguns rabinos começem a encará-la de forma diferente, por influência de outras culturas. De acordo com os documentos Halakhic mais antigos, o cessar da respiração marca o momento da morte para os judeus, mas desde 1960, ano em que o conceito de "morte cerebral" surgiu, os rabinos tendem a reinterpretar e a redefinir o conceito judaico de morte. Quando um judeu morre, os seus olhos são fechados e é colocado, de preferência pelo seu filho mais velho, no chão. Um corpo morto deve ser tratado/cuidado com o mesmo respeito que um corpo vivo. Nunca fica, em algum momento sózinho, pois os shomrim (vigilantes) familiares e amigos estarão sempre presentes, rezando, até ao final dos serviços fúnebres.
Porque é que os judeus colocam o morto no chão?
R: Coloacr o morto no chão e aspergir todo o compartimento onde ele jaz, é um costume antigo (Juízes 20:26/Joel 1:4) e é uma forma dos judeus reconhecerem o desagrado de D' para com as suas más acções. Na Idade Média este costume foi, de tal forma, seguido que ficou guardado como uma importante prática fúnebre. Acreditava-se que o espírito do morto poderia afectar o visitante e por isso se aspergia o pavimento com água a qual todo aquele que queria ter acesso ao morto teria de pisar.
Porque é que a lei judaica não permite, na maior parte dos casos, a autópsia?
R: A lei judaica não permite a mutilação do corpo. Só em casos muito especiais a autópsia é permitida (homicídio/estudo científico). Este é um assunto muito controverso em Israel. A lei limita muito os médicos e especialistas a este exercício. O mesmo se passa com o transplante de órgãos que, quando é necessário, exige um grande e penoso processo de justificações e autorizações legais.
Porque é que os judeus são enterrados numa simples mortalha de cor branca e sem bolsos?
R: É uma prática que foi instituída há 800 anos atrás por Rabbi Gamaliel que defendeu a tese de que todo os judeus deveriam ser sepultados num mesmo jardim onde não deveria haver distinção entre ricos e pobres, pois todos somos iguais aos olhos de D'. Os tachichim (mortalhas) consistíam em 7 peças de roupa, simples, pobres e de algodão ou linho, com as quais o morto devia ser enterrado. A última peça devia ser muito larga. Hoje a mortalha é constituída por uma só peça de roupa, quando muito duas. A cor branca das mortalhas significa a pureza. Alguns judeus, usam, apesar deste conceito, outras cores. Estas mortalhas não devem ter bolsos o que significa o total despojamento do morto face à vida que viveu.
Porque são sepultados, alguns judeus vestidos com o kittel (túnica branca)?
R: Muitos judeus usam, como última peça, o kittel que usaram em vida nos dias santos como na Pessa'h (Páscoa) e no casamento. É um sinal de piedade, isto é, um sinal de que aquele que o veste tudo fez para viver em obediência aos mandamentos divinos. O cinto desta túnica (o kittel) é muitas vezes feito a partir do xaile que embrulhou no dia do seu nascimento o judeu, agora morto.
Porque é que a tradição judaica não permite que o corpo do morto não seja visto antes da cerimómia fúnebre?
R: É de influência da diáspora judaica norte americana esta prática que só raramente é seguida na Europa. A tradição judaica vê como incompatível o gesto de olhar o morto, com a kevod hamet (lei que dita que o morto não deve ser visto senão nas cerimónias fúnebres por uma questão de respeito).
Porque é que a cremação é proibída pela lei judaica?
R: Na Bíblia, D' diz a Adão :" És pó e em pó te hás-de tornar", (Génesis 3:19). O acto do enterramento ou sepultamento na terra é, assim, para os judeus, essencial. Quando ao corpo é cremado, o corpo, normalmente, não volta à terra, isto é, as cinzas não são sepultadas, sendo retidas numa pequena urna ou pote. Outra razão forte contra a cremação é a ressurreição futura dos mortos que deixa de ser possível se o corpo foi destruído.
Porque é que alguns judeus não podem assistir/participar nos funerais?
R: Aos kohanim (sacerdotes da tribo de Levy) que foram responsáveis pelas actividades religiosas no Tabernáculo, mais tarde no Templo e na Sinagoga é-lhes pedido/exigido que sejam puros. Ao contactarem com os mortos num funeral ficam impuros e por isso não devem assistir aos funerais. Se o morto é um familiar muito próximo, ele tem permissão para assistir ao funeral mas tem de ficar a certa distância.
O que significam as pausas durante a procissão fúnebre até ao cemitério?
R: São uma expressão de tristeza por ter de ir sepultar, ali mais à frente, o seu amigo ou ente querido e por isso as pausas atrasam o enterramento. Enquanto carregam com o caixão até ao túmulo alguns param 3 vezes, outros 7. Este é um gesto que também significa o afastamento dos maus espíritos do funeral. Em cada pausa ou paragem, um destes espíritos é afugentado. O número 7 surge aqui ligado às sete referências da vaidade dos homens na vida, mencionadas no Kohelet (Eclesiástico).
Porque é que todos os que participaram no funeral devem lavar as mãos ?
R: O costume é muito antigo e liga-se ao ritual da purificação, uma prática muito comum entre os judeus depois de se terem aproximado de um morto. Está também ligada a uma antiga crença, segundo a qual o demónio segue o morto até ao túmulo e por isso todos aqueles que integram o cortejo fúnebre devem ter purificado as mãos, caso estivessem estado antes próximo do morto. As mãos devem ser lavadas também depois do funeral e antes de entrara em casa. Ao chegar a casa, vindo do funeral, o judeu deparará sempre, junto à porta, com um recipiente com água que aí foi colocado pelos vizinhos.
Porque é que a primeira refeição depois do funeral é preparada pelos vizinhos da pessoa que está de luto e qual a razão/significado dos seus ingredientes?
R: Trata-se de uma tradição muito antiga. A própria designação se'udat havraa (Refeição de Condolência), desta refeição, explicita a razão pela qual os vizinhos a confeccionam. Este é um gesto de solidariedade para com a tristeza de um vizinho enlutado. Esta refeição inclui ovos cozidos, pães ázimos e outros ingredientes de formato redondo, símbolos da vida eterna. O ovo é o ingrediente mais cozinhado nesta refeição de condolências, porque não tem boca, isto é, qualquer abertura. Ele representa o lamento, o choque sofrido pelo enlutado.
O que é a shiva ?
R: São os 7 primeiros dias de luto (referência a Amos 8:10). Os rabinos estabeleceram como norma que a maior parte das festas fossem celebradas durante 7 dias e por alusão a esta recomendação o primeiro período de luto, a shiva, também tem essa duração. A justificação deste período também aparece ligada a José do Egipto que chorou, durante 7 dias, a morte de seu pai, Jacob, (Génesis 50:10). Para que o enlutado tenha mais tempo para se adaptar à perda, os rabinos acrescentaram à shiva, um outro período de tempo, este de 30 dias, período que é conhecido por shloshim (trinta, em hebraico). Para as crianças que perderam os seus pais, o período é mais longo, cerca de um ano. Durante estes períodos devem ser retirados de casa todos os espelhos para que o enlutado não se iluda com a vaidade pessoal.
O que é o kaddish?
R: Oração de condolência, própria do luto. É rezada pelos enlutados durante os onze meses seguintes à morte de um parente próximo. É um poema muito antigo, aramaico, que é recitado nos serviços da sinagoga. O kaddish tem como conteúdo, a tristeza, o abandono e a solidão e por isso é muito comparado à oração de Job. A mais antiga referência ao kaddish é o Or Zarua, uma obra escrita pelo Rabi Isac ben Moses de Viena (1180-1260). A mensagem principal do kaddish é a declaração da submissão do homem à vontade de D'. O kaddish não faz qualquer referência directa a D' mas pode inferir-se facilmente que é a Ele que o orante ou o leitor se refere. Originalmente, apenas um filho estava obrigado a rezar o kaddish. Gradualmente, esta prática estendeu-se a todos os familiares e amigos do morto e hoje o kaddish é, portanto, rezado por todos.
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