A brit milah (circuncisão) é uma operação cirúrgica simples que consiste na remoção do prepúcio do pénis da criança.Trata-se de um dos mais importantes mitvot (mandamentos divinos), assumidos pelos judeus crentes. O cumprimento desta obrigação religiosa é transmitida pelo pai ao filho, embora este delegue tal acto a um especialista em circuncisão (o mohel).
"Dou uma grande importância ao sinal do pacto porque estou convencido de que ele basta, por si mesmo, para manter a existência da nação para sempre" - Spinoza
Porque é que um recém-nascido do sexo masculino, sendo judeu, deve ser circuncidado?
R: É a Torah que o requer como sinal de aliança entre D' e os homens. A brit(aliança) é uma espécie de contrato que D' fez com Abraão (Génesis 17:2), no qual lhe prometeu prosperidade :"Eu estabelecerei uma aliança entre mim e ti, e te multiplicarei extraordinariamente". Tal contrato foi selado com a milah (circuncisão) : "Circuncisareis a carne do vosso prepúcio e isso será o sinal da aliança entre mim e vós (...)", (Génesis 17:11). No final da teofania D' refere algo que os judeus ortodoxos tomam muito a sério : "(...) O incircunciso, o varão que não tiver amputado o prepúcio de sua carne, será exterminado do meio de seu povo, pois violou a minha aliança", (Génesis 17:14).
Porque é que tradicionalmente o acto da circuncisão só pode ser praticado por um homem e não por uma mulher?
R: Foi Abraaão quem circuncidou o seu filho Isaac aos 8 dias de idade, (Génesis 21:4). Só mais tarde esta função foi assumida por um profissional designado mohelque substitui o progenitor no cumprimento deste mitzva. Interessante é o caso de Séfora, mulher de Moisés, que procedeu à circuncisão de seu filho com uma pedra, (Exodo 4:25). O Talmud (Avoda Zara 27a) defende, no entanto, que ela não terminou o acto que acabou por ser terminado por Moisés.Tal postulado, embora rejeitado por muitos judeus por não ser mencionado na Torah visa, na perspectiva rabínica declarar e sobretudo vincar que este mitzva pertence ao pai e não deveria nunca ser praticado por uma mulher. Hoje em dia, o judaísmo Conservador e Reformista ultrapassou estas diatribes exegéticas e certifica mulheres para exercerem a função de mohelet.
Porque é que os judeus preferem o mohel ao médico-cirurgião para a realização deste rito?
R: Simplesmente porque consideram que o mohel está muito melhor preparado para o exercício desta função do que, propriamente, um cirurgião que não tem esta especialidade em particular.
Porque é que o mohel coloca o bisturi cirúrgico debaixo do travesseiro da criança na noite antes da circuncisão?
R : Originalmente, o mohel procedia deste modo somente às sextas-feiras, (yom shishi) antes de escurecer, quando sabia que ia circuncidar a criança no Shabbat (sábado) e isto porque era proibido levá-lo consigo no Sábado, dia Santo (este acto de levar qualquer coisa/carregar qualquer coisa de um lugar para outro é fazer um esforço/um trabalho proibido em dia de Shabbat). A partir do séc. XVI esta prática generalizou-se a todas as circuncisões independentemente de serem à sexta-feira, Shabbat ou não. Tal prática foi instituída pelos Kabalistas por acreditarem que os demónios que atacam os recém-nascidos são afastados pelos bisturis ou outros objectos curtantes. Hoje todos os mohelim praticam este minhag (costume) que é muito bem aceite pelas famílias judaicas.
Porque é que a circuncisão é permitida mesmo em dias tão santos para o judaísmo como o Shabbat e o Yom Kippur (dia da expiação dos pecados) ?
R: Porque a brit milah é considerado o mais importante ou um dos mais importantes mitzvot do judaísmo. Os rabinos defendem no Talmud que a circuncisão pesa mais, enquanto rito, do que todos os outros mandamentos da Torah. Por esta razão, ela deve ser praticada no oitavo dia após o nascimento da criança, mesmo que esse dia seja Shabbat ou Yom Kippur, a não ser que a saúde da criança não o permita.
Porque é que a circuncisão pode não ser praticada aos 8 dias após o nascimento?
R: Quando o estado de saúde da criança não o permite ou nasceu prematuramente, é permitido que este rito seja adiado algum tempo, um mais curto espaço de tempo possível.
Porque é que alguns adultos se deixam circuncidar?
R: Quando, por um qualquer motivo, uma criança não foi circuncidada no tempo/prazo certo, é obrigado a fazê-lo mais tarde caso queira permanecer judeu. Os adultos conversos ao judaísmo devem, de igual modo, deixar-se circuncidar por motivos espirituais.
Porque é que alguns judeus se opõem à circuncisão?
R: No séc. XIX um grupo de judeus reformados proclamou a abolição da circuncisão acusando o acto de antiquado e barbárico. Este grupo foi, contudo, foi vigorosamente repudiado pelas altas esferas religiosas do movimento Reformista. Hoje, todos os movimentos judaicos aceitam a circuncisão como um importante mitzav do judaísmo, embora haja judeus que o rejeitam pelas mais variadas razões.
Porque é que é praticada um vigília em volta do berço da criança na noite antes da circuncisão?
R: Esta vigília ficou conhecida com o germanismo Wachnacht (noite de observação). Durante a noite reza-se o Shema (credo de fé no judaísmo) e outras orações, ou estuda-se. Este círculo de protecção da criança é de orígem Kabalística, tal como outros minhagim (costumes) e tem como objectivo fundamente afastar os maus espíritos da criança.
Quais as princiais figuras da circuncisão?
R: O mohel (especialista), o sandek (padrinho e assistente directo e mais próximo do mohel), também chamado baal brit (mestre da cerimónia da circuncisão - ocupa uma posição central na cerimónia uma vez que é ele quem segura na criança enquanto ela é intervencionada), o kvater e a kvaterin (um marido e esposa ou um irmão e uma irmã) que ajudam o sandek. Durante a cerimónia, a kvaterin toma a criança do regaço da mãe e entrega-a ao kvater. Este entrega-a, por sua vez, ao pai que a leva ao regaço do sandek. Este, senta-se numa cadeira especialmente decorada para o efeito, onde segura a criança para a intervenção do mohel. Estes passos, muito mais do que meras formalidades, são requisitos obrigatórios do rito, e estão exarados no Levítico 12:1-5. O texto sagrado refere que o marido não pode tomar a criança do regaço da mãe porque ela ainda está no período de impureza por ter dado à luz. Daí a intermediação de todas estas figuras.
Onde se pode praticar a circuncisão?
R: Antes do séc. X, era praticada em casa e as principais figuras eram o mohel e o pai da criança. Mais tarde, séc. XVI, na sinagoga depois do serviço religioso da manhã, na presença da congregação de fiéis. Hoje é praticada na sinagoga ou no hospital, numa dependência especialmente preparada para o efeito. Na diáspora, os judeus podem contar com esta dependência em muitos hospitais urbanos.
O que é e para que serve a Cadeira Eliah no rito da circuncisão ?
R: A cadeira do profeta Elias é colocada perto do lugar onde o sandek se sentará com a criança ao colo, aguardando a intervenção do mohel. Esta cadeira deve permanecer desocupada pois é reservada para o profeta Elias, o qual, segundo a tradição, está presente em todas as circuncisões e protege todas as crianças de algum mal ou perigo físico decorrente da cirurgia. Em algumas sinagogas, sobretudo orientais, esta cadeira é suspensa na parede como um objecto sagrado.
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